sábado, 27 de julho de 2013

Seis meses

Foi em um final de semana, seis meses atrás, muito parecido com o dia de hoje, apesar de não fazer frio estava nublado, terminei o último capítulo do livro que estava lendo, o fechei e comecei uma carta de despedida, pensando ser um até breve, peguei minha aliança e a deixei junto com as flores que havia comprado, em cima do aparador da sala, peguei minhas últimas coisas fiz um carinho no cachorro, peguei dois porta retratos, juntei minhas chaves e controle remoto da garagem, coloquei  tudo em um envelope, desci pelo elevador com minhas últimas caixas e coloquei tudo no carro, passei pela portaria para deixar o envelope e parti, com o gosto mais amargo que já havia sentido na vida, o gosto da derrota e fui para o meu novo lar, na época, pra mim parecia um até breve, um dar um tempo ou sei lá, só sei que o gosto era ruim, fazia de tudo para parecer bem, estava em férias, o que também era ruim pois não tinha o que fazer.
Ao chegar na minha nova casa, não muito longe dali, não tive coragem de começar a arrumar minhas coisas, larguei as no quarto, me sentia isolado, sozinho, lágrimas vinham com facilidade, sem nenhum esforço, soluçava, foi a que me dei conta, estava só a vida nunca mais seria a mesma, tinha consciência ou esperança e desejo que  melhoraria mas naquele dia não poderia ficar isolado, sozinho, com medo, bateu um desespero... liguei para minha mãe me oferecendo para o jantar e fui para sua casa, se ficasse aqui não aguentaria.
Fui, jantei, a tranquilizei, pois era nítido que também sofria. Voltei para a minha nova casa mais tranquilo aparentemente e dormi..com a sensação de derrota, afinal eu tinha falhado, não tinha como fazer diferente, não sabia quando, imaginava os porquês, com quase certeza de que seria apenas um tempo.
Passaram-se dias, semanas, meses tive que ir me adaptando e o que era pra mim passageiro foi virando rotina... Imaginava que podia ser diferente, já tinha procurado ajuda psicológica, procurei alguns amigos,  outros  evitava, tinha vergonha de expor minha situação, afinal alguém tinha desistido de mim e logo quem? a pessoa que mais amava,  ...tantos sonhos, tantos momentos felizes e tantas lembranças agora que o tempo tem se encarregado de apagar.
Nesse tempo todo me reorganizei, aprendi a conviver com a ausência principalmente da minha filha, a me virar sozinho, contei com ajuda de amigos, outros me distanciei perdi contato, reativei amizades, treinei, malhei, emagreci, descobri o prazer da dança, passei a máquina um no cabelo, tirei o cavanhaque, criei outras referencias ao me ver no espelho, como se tivesse renascendo, as vezes resolvo ficar quieto ás vezes me revolto, nada é fácil, nem por isso menos prazeroso, comecei a viver de uma forma diferente, assumi minha vocação, exerci minha liderança no rumo que minha vida tomou...coisas que eram imprescindíveis hoje nem fazem parte da rotina... Não era pra impressionar era o que tinha que ser feito.
Essa fase da separação é muito estranha, mas necessária, ruim, tudo irrita, tudo melindra, difícil de entender esse processo de se tornar estranho novamente, mas faz parte.
Nada me surpreende mais. Não sou vítima de nada, tomei atitudes que me arrependo só não me arrependo de ter lutado contra a separação, nesse aspecto fiz de tudo que julguei ser necessário para lutar pela minha família. Viveria tudo de novo se dependesse apenas de mim, mas só me resta seguir em frente... Não julgar ou se conformar, sentimentos ruins afloram de vez em quando também, não sou perfeito ou tenho essa pretensão.
Começando do zero outra vez, reestruturando minha vida...
Acabei me dando um prazo também pra acabar com  esse luto, hoje... Não tentem entender, eu não entendo ... mas é melhor pensar que as feridas estão curadas e que tenho que estar bem, afinal ninguém pode cuidar da gente além de nós mesmos....

Eu, o errado...







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